quarta-feira, 6 de maio de 2009

Sempre que te vejo - 20.12.08

Sempre que te vejo o meu mundo desaba.
Falo ao meu coração. Tento sossegá-lo. Mas ele não me obedece.
Às vezes gostava de simplesmente não sentir, não sentir de todo. O sofrimento não teria este tamanho, nem me consumiria desta forma.
Guardo os nossos objectos comuns numa caixinha. Tiro as nossas fotografias do computador para não ceder ao impulso de vê-las mais uma vez. Compro lençois novos. Reorganizo-me. Estabeleço novas metas. Trabalho. Envolvo-me noutros projectos. Viajo. Estou com amigos e família. Consumo música como quem devora chocolate. Conheço outras pessoas.

Abstraio-me de tudo. Dou por mim a olhar para o verde do parque do lado de lá da janela e a pensar naquela manhã em que parte de mim morreu. Faço um esforço por voltar a concentrar-me naquilo que estava a fazer. Em pouco mais de cinco minutos torno a flagrar-me.
Sempre disseste que serias incapaz de me magoar. Sinto-me desacreditada. Gostava de perceber tanta coisa.
Procuro convencer-me de que o futuro me reserva ainda muitas alegrias. Sorrio. Tenho acessos de optimismo. Mas rapidamente a saudade toma conta de mim.

Sempre que te vejo o meu mundo desaba.
Assim como apareceste na minha vida quando eu menos esperava, da mesma forma saíste dela. Não quero perder o contacto contigo. Foste a pessoa que eu mais amei, a pessoa que mais me fez feliz. Mas penso que tudo seria mais simples se não habitássemos a mesma cidade.
Dói muito não te poder dar todo o amor que, contra todas as correntes, ainda sobrevive cá dentro. Dói muito ver o carinho e a atenção que em tempos me eram dirigidos serem endereçados a outra pessoa. E dói mais ainda não teres a sensibilidade para o perceber e forçares situações de encontro.
Não desejo mal a ninguém. Mas não quero ser testemunha de algo que, por mais que eu lute contra, me traz ainda tanta dor. Porque sabes que sou verdadeira, não sei mentir e não posso agir como se estivesse felicíssima, quando na realidade está tudo tão vivo dentro de mim.

Passado todo este tempo, ainda me custa inestimavelmente levantar da cama de manhã e enfrentar mais um dia sem o teu amor. Manhã atrás de manhã, adio o despertador consecutivamente até não poder mais. À noite chego a casa e continuo a adiar a minha vida. Adio trabalhar no que realmente importa, adio todos os meus pequenos projectos e, mesmo sabendo que devia descansar, adio a hora de ir para a cama e deixo-me ficar a pastelar, entre pensamentos e conversas.

Sempre que te vejo o meu mundo desaba.
Dizes-me que nunca deixaste de me amar, que sentes muita culpa e que todos os dias te angustias quando pensas que ainda posso estar a sofrer. Dizes-me que não me mereceste e que querias muito que me aparecesse alguém melhor. Fazes-me repetidamente a mesma pergunta: “Já apareceu alguém?” – como se ansiasses tirar um peso de cima dos teus ombros para finalmente te sentires em paz contigo. Respondo-te que também eu gostava muito que aparecesse alguém... mas que as coisas não são assim tão simples e não basta estalar os dedos.
Sei que a vida não espera por nós. Mas não encontro maneira de deixar de sentir tudo isto. Não sou uma máquina nem tenho um botão para desligar... antes tivesse.

Sempre que te vejo o meu mundo desaba.
Os pensamentos atropelam-se. As palavras não saiem exactamente como eu quero. A confusão instala-se. A cabeça lateja.
Sinto que ficou tanto por dizer...

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