quarta-feira, 6 de maio de 2009

Boogie Nights - 06.12.08

Ferve-me o sangue. Preciso de escrever.
Tenho caneta. Falta-me o papel. Arranjar papel branco. Encontrar papel já. Dava tudo por um pedaço de papel.
Olho para os empregados atrás do balcão. Não acredito que me possam ajudar. Perco a vergonha. Dirijo-me ao J. e peço-lhe, desajeitadamente, papel branco. Ele sorri, oferece-se para rasgar algumas folhas do seu moleskine que tira prontamente da mochila, mas eu retribuo-lhe o sorriso e digo-lhe que não, que não queria que o fizesse. Ele pisca-me o olho e diz “trago-te já”.
Torno a sentar-me, desta feita de caneta em punho e papel nos joelhos. Vamos ver o que sai...

A casa está à média luz, a música tem o volume, o ritmo certos e o borburinho das pessoas que vão chegando preenche todos os espaços vazios, do chão de madeira que range a cada passo dado ao estuque branco do tecto que não esconde as marcas do tempo e da humidade. Fascina-me o incrível pé direito deste bar. Creio que deslumbra qualquer um.
Mais um concerto. A cidade anda com uma boa energia.
As mesas estão todas ocupadas. As pessoas conversam, riem, tomam café, bebem uma cerveja ou um copo de vinho, enquanto se faz tempo para o início da festa de mais uma noite de música, dança e do expulsar de todos os males da semana (ou do comemorar de todos os bens).
Uns vão lá parar por mero acaso. Outros aguardam ansiosamente que aquele dia chegue para finalmente se poderem libertar. Mas todos procuram o mesmo. Alegria, diversão.
Deixo-me absorver pela energia que sobrevoa o ar. Sinto a música dentro de mim, como se eu mesma fosse a caixa de ressonância. Deixo o meu corpo segui-la, acompanhá-la. O coração bate no mesmo compasso, a cabeça agita-se antes de eu me dar conta e os pés não pedem licença para dançar. Percorre-me da ponta dos dedos ao sorriso estampado no rosto uma enorme satisfação. A cintura ondula, o tronco contorce-se, as pernas frenéticas e os braços inquietos marcam a cadência.
Por momentos parece que tudo se encaixa. Os amigos estão lá, os desconhecidos olham-nos com simpatia. Toda a gente salta e se abana. Os namorados trocam carinhos como se o mundo acabasse amanhã. Os mais extrovertidos fazem as suas tentativas de aproximação, na sua maioria mal sucedidas, mas não ficam tristes por isso.
Música atrás de música, danço e danço e danço... até sentir os órgãos todos no seu lugar, o estômago colado às costas, o abdómen e ventre firmes.
As horas passam. A música não pára, não quebra, não há qualquer pausa.
Aos poucos a sala vai-se esvaziando até à altura em que os outros bares fecham e todos os resistentes vêm cá parar para terminar a noite. O ambiente é de festa... de mais uma noite cumprida.

Fecho os olhos e deixo-me absorver pela energia que sobrevoa o ar.
Por momentos parece que tudo se encaixa. Mas faltas lá tu.

Dirigimo-nos até à porta. Já é de manhã.

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